Renda de Bilro e Bordado: Técnicas e Histórias
A renda de bilro e o bordado são algumas das formas mais tradicionais de artesanato do Nordeste brasileiro, destacando-se especialmente no Ceará. A renda de bilro não é apenas uma fonte de complemento orçamentário, mas também uma forma de distração e um elo entre as mulheres que marcaram a história do Nordeste e dos Morros da Mariana.
Esse tipo de renda está presente em diversos artigos, como roupas, lenços e toalhas, desempenhando um papel econômico significativo nas regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil.

Renda de Bilro no Nordeste
A renda de almofada, conhecida como renda de bilros, é elaborada pelas mãos habilidosas das rendeiras. Essas artesãs utilizam uma almofada, um papelão perfurado, linha e bilros (pequenas peças de madeira semelhantes a fusos).
Essa técnica, trazida pelos portugueses e pelos colonos açorianos, é uma tradição enraizada em várias regiões do litoral brasileiro.
As rendas são confeccionadas sobre uma almofada recheada com palha de carnaúba, onde um desenho é colocado como molde para o trançado dos bilros. Para o bordado, as rendeiras utilizam pedaços de madeira colados a um coco típico da região, conhecido como tucum.
Os papelões que contêm os desenhos são transmitidos de geração em geração, e muitos motivos são exclusivos de cada família. Embora a renda não seja um produto originalmente brasileiro, ela se tornou uma expressão cultural local por meio da aculturação.
As rendas confeccionadas com bilro são conhecidas como “rendas de bilro”. O bilro é um pequeno instrumento com uma haste curta e uma ponta esférica. Na outra ponta, uma quantidade de linha é presa, permitindo que a artesã siga o design da renda a ser criada.
A produção desse tipo de renda requer o uso de vários bilros, com a quantidade variando conforme a complexidade do desenho.
A renda de bilro é trabalhada em almofadas apoiadas sobre o colo da artesã ou em cavaletes de madeira à sua frente. O fio utilizado é predominantemente o algodão, geralmente na cor branca, tanto por tradição quanto por facilitar a visualização dos padrões.
Os modelos de desenho são antigos e passados de geração para geração. Para criar novos modelos, as rendeiras costumam trocar piques entre si ou obter amostras de outros lugares. Algumas raras rendeiras têm a habilidade de fazer a renda de cabeça, sem utilizar molde.
As rendas de bilro podem assumir diversas formas, como:
- Bicos ou pontas para enfeitar beiras de tecidos ou para serem aplicados entre dois pedaços de tecido.
- Colchas, toalhas, centros de mesa e guardanapos.
- Rendas em forma de flores, corações, leques, entre outros, para aplicações em tecidos.
- Palas: peças inteiras utilizadas sobre decotes de camisolas, blusas e vestidos.
Diferença entre Renda de Bilro e Bordado
A renda de bilro e o bordado são formas distintas de artesanato, cada uma com suas características:
Renda de Bilro
- Técnica: Criada usando bilros e uma almofada, onde os fios são entrelaçados para formar padrões.
- Materiais: Linha de algodão e bilros, além de uma almofada recheada com palha.
- Resultado: Peças de renda com padrões elaborados que são utilizadas em roupas, toalhas e artigos decorativos.
- Origem: Tem raízes históricas na Europa, especialmente em Flandres e Itália.
Bordado
- Técnica: Envolve a aplicação de pontos decorativos sobre um tecido, utilizando agulha e linha.
- Materiais: Tecido base, linha de bordar e agulha, com uma variedade de fios.
- Resultado: Desenhos bordados sobre a superfície do tecido, decorando roupas e outros itens.
- Origem: Prática antiga que existe em várias culturas ao redor do mundo.
Renda de Bilro e Bordado no Ceará
As atividades de renda e bordado são predominantes no Ceará, presentes em cerca de 104 municípios. Registros históricos indicam que essa forma de artesanato existe no estado desde a colonização, espalhando-se pelo interior e litoral, com maior concentração nos municípios de Aquiraz, Aracati, Beberibe, Acaraú e Trairi.
O desenvolvimento do artesanato na região tem potencial para se tornar uma marca cultural forte, especialmente no distrito da Prainha, em Aquiraz, onde a Renda de Bilro se destaca como uma atividade artesanal significativa.
Aquiraz, com mais de três séculos de existência e uma população estimada de 80.000 residentes, é um município que combina forte apelo turístico e uma rica história em artesanato, características que são relevantes para a economia e a identidade cultural local.
Origem da Renda de Bilro
A renda de bilro possui uma origem controversa, sendo reivindicada por diferentes regiões da Europa. Sua criação remonta aos séculos XV e XVI, com duas principais versões sobre sua origem:
- Flandres (região atualmente dividida entre Bélgica, França e Países Baixos) é considerada uma das possíveis inventoras da renda de bilro. A técnica se espalhou rapidamente pela Europa devido à sua complexidade e beleza, tornando-se uma arte refinada e popular entre as elites.
- A Itália também reivindica a criação da técnica, sendo pioneira na renda de agulhas, de onde se originou a famosa renda renascença. Esse estilo se expandiu junto com o desenvolvimento das rendas de bilro na Europa, especialmente na região de Veneza.
A técnica foi trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses e açorianos, espalhando-se por várias regiões litorâneas, principalmente no Nordeste e Sul. No Brasil, a renda de bilro foi aculturada, adaptando-se às influências locais e se tornando uma prática tradicional em diversas comunidades.
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