Embora a prioridade no descobrimento do Brasil caiba ao navegador espanhol Vicente Yánez Pinzón, o descobrimento oficialmente válido, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, é o do português Pedro Álvares Cabral, cuja viagem passamos a estudar.

1. A Expedição
Descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral: A Viagem
Recebida, pelo rei Dom Manuel I, a notícia dos bons resultados da viagem de Vasco da Gama à Índia, cuidou-se logo, em Portugal, da preparação de outra armada mais poderosa que, aproveitando-se da experiência fornecida pela anterior, pusesse em prática os planos de estabelecimento de intensas relações políticas e mercantis entre o reino peninsular e o Oriente.
Em oito meses aprestou-se a frota que, em março de 1500, estava pronta a partir de Lisboa. Compunham-na treze navios de diferentes tonelagens, na sua maior parte naus, incluindo-se algumas caravelas e duas embarcações financiadas por particulares.
Para capitão-mor da esquadra foi nomeado o fidalgo Pedro Álvares Cabral, alcaide-mor de Azurara e senhor de Belmonte, descendente de navegadores. Para desempenho de sua missão diplomática, comercial e, eventualmente, militar, foram-lhe dadas minuciosas instruções.
Acompanhavam-no alguns dos mais notáveis navegantes portugueses da época, dentre os quais Bartolomeu Dias, o descobridor do Cabo da Boa Esperança, e seu irmão Diogo; Nicolau Coelho, como este, participante da expedição de Gama. Como subcomandante, Sancho de Tovar; como piloto principal, Pêro Escolar.
Outros comandantes eram Simão de Miranda, Pedro de Ataíde, por alcunha “Inferno” (da nau São Pedro), Nuno Leitão da Cunha (da Anunciada), Vasco de Ataíde, Luís Pires, Aires Gomes da Silva, Simão de Pina e Gaspar de Lemos.
O bacharel mestre João, físico, isto é, médico e cirurgião de Sua Alteza, também vinha na frota.
Funcionários destinados à feitoria a ser fundada em Calecute — entre os quais o feitor Aires Correia e o escrivão Pêro Vaz de Caminha; frades franciscanos — chefiados por Frei Henrique de Coimbra; malabares trazidos da Índia pelo Gama; o judeu Gaspar, intérprete — completavam, com marinheiros, soldados, padres seculares, mercadores e degredados, a importante expedição de 1.200 participantes.

2. A Viagem de Pedro Ávares Cabral
Ouvida missa solene na Ermida do Restelo, em Belém, com a presença do rei Dom Manuel, a 8 de março de 1500 embarcaram no Tejo os expedicionários.
Zarpando no dia seguinte, a 9 do mesmo mês, a 14 de março avisaram uma das Ilhas Canárias; a 22 de março passaram por São Nicolau, no grupo de Cabo Verde; a 23 de março ocorreu o primeiro incidente: tresmalhou-se a nau de Vasco de Ataíde, sem que repetidas buscas lograssem encontrá-la.
Navegando no rumo de sudoeste “por este mar, de longo”, na expressão de Pêro Vaz de Caminha, insubstituível cronista do acontecimento, atravessou a expedição a linha equatorial e o Atlântico, de modo a aproximar-se do Brasil, nas alturas da costa sul do atual estado da Bahia.
A 21 de abril surgiram os primeiros sinais de terra próxima: ervas compridas, boiando, “a que os marcantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno”. E na manhã seguinte, “aves, a que chamam fura-buchos”.
À tarde do mesmo dia, quarta-feira, 22 de abril, foi visto, primeiramente, “um grande monte, muito alto e redondo”, ao qual pôs o capitão-mor o nome de Monte Pascoal, por estarem então na Páscoa; “e outras terras mais baixas, ao sul dele”; e “terra chã com grandes arvoredos”, a que denominaram Vera Cruz.
Singrando em sua direção, tiveram de fundear, sem alcançá-la, ao cair da noite.

3. O Descobrimento do Brasil
No dia seguinte, 23 de abril, aproximou-se mais a esquadra, a fim de tomar conhecimento da nova terra descoberta. Reunidos os comandantes na capitania, coube depois a um deles, Nicolau Coelho, o primeiro contato com os indígenas, cuja existência foi então verificada.
A 24 de abril velejou a frota ao longo da costa, por dez léguas, para o norte, à procura de melhor abrigo. Encontrou-o, quase fechado por um recife, e neste Porto Seguro, então assim denominado — hoje a Baía Cabrália — estacionou por toda uma semana. Novamente foi mandado à terra Nicolau Coelho e, com ele, Bartolomeu Dias, no sábado, dia 25 de Abril.
Asseguradas as boas relações com os indígenas, alguns dos quais haviam sido levados a bordo da capitânia e aí cordialmente tratados, decidiu o capitão-mor que fosse celebrada missa no dia seguinte, domingo da Pascoela, no ilhéu hoje chamado da Coroa Vermelha.
Rezou-a Frei Henrique de Coimbra, que depois pregou sobre o descobrimento da nova terra, dedicada à Cruz de Cristo, sob cuja bandeira vinham todos. À distância, na praia, acompanharam os indígenas a cerimônia religiosa.
Depois da missa houve conselho dos comandantes a bordo da capitânia e resolveu-se que se mandaria um emissário ao reino, levando a notícia do achamento, para que o rei mandasse explorar a nova terra, melhor do que se podia fazer então. Também foi decidido que não se tomariam indígenas à força para serem enviados a Portugal.
Mas, para colher informações sobre a terra, aprendendo a língua de seus naturais, aqui ficariam alguns dos degredados que vinham na esquadra.
Para levar aquela notícia foi escolhido o navio de mantimentos, comandado por Gaspar de Lemos.
A distribuição dos gêneros nele contidos pelos demais navios ocupou os dias seguintes. Nisto, como no carregamento de água doce e lenha, então feitos, de boa vontade auxiliaram os indígenas aos marinheiros.
A 27 de abril foi cortado um grande madeiro, com o qual se preparou a cruz que, com as armas e a divisa reais, assinalaria a posse da nova terra para a coroa portuguesa. Erguida solenemente em terra firme, próximo à foz do Mutari, celebrou-se outra missa a 1º de maio, novamente pregando Frei Henrique de Coimbra.
No dia imediato partiu a frota a seu destino e o navio dos mantimentos para Portugal. Aqui ficaram dois degredados e, talvez, também dois grumetes que na noite anterior haviam fugido de bordo.

4. A carta de Pêro Vaz de Caminha
O descobrimento do Brasil teve um narrador à altura do acontecimento: o escrivão Pêro Vaz de Caminha, que, em carta dirigida ao rei Dom Manuel, datada de Porto Seguro da Ilha da Vera Cruz, a 1º de maio de 1500, deu resumida conta da viagem, fazendo, porém, minucioso relato do ocorrido durante os nove dias em que permaneceu a esquadra à vista da nova terra.

Forneceu-nos, assim, precioso e insubstituível documento histórico, de fidelidade certamente inatacável, valendo por verdadeiro “auto do nascimento do Brasil” ou sua “certidão de batismo”, escrita por testemunha dotada de amplos recursos de observação.
Em suas vinte e sete páginas de texto não se encontra informação que possa ser considerada supérflua.
Entre todas, avultam as que dizem respeito aos indígenas. Numerosas e minudentes, não deixam sem registro os menores gestos dos habitantes da nova terra, quer em sua atitude em relação aos europeus que viam pela primeira vez, quer entre eles.
O contato de civilizados e selvagens, sempre objeto de curiosidade, encontra na carta de Caminha interessantíssimo depoimento. A boa vontade recíproca, as atenções do capitão-mor, a alegria comunicativa dos marinheiros — são aspectos que nobremente singularizam esse primeiro encontro entre portugueses e indígenas do Brasil.
Acima de tudo, constituem farto manancial de estudo etnográfico os esclarecimentos oferecidos pela completa descrição ali contida.
Pormenores corográficos, que permitem a identificação do local do desembarque de Cabral e seus companheiros, aliam-se, no precioso documento, a alguns dados proveitosos ao estudo da avifauna e da botânica regionais.
Incidentes do período de permanência da frota em Porto Seguro, as cerimônias religiosas então realizadas, a tentativa de acomodação dos degredados com os “selvagens”, foram minuciosamente computados na carta do escrivão da feitoria de Calecute.
Nem faltou à carta de Caminha a previsão do futuro aproveitamento agrícola da nova terra, ou, no mais próximo, de escala na navegação para a Índia.
“Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente”, isto é, os indígenas — acrescentou como bom cristão, salientando que “esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar”.

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