Tentativas de demarcação do meridiano do Tratado de Tordesilhas
Partilha das Terras Descobertas - Demarcação do Meridiano de Tordesilhas
1. Contexto e disposição do Tratado
Determinava o Tratado de Tordesilhas que a demarcação das 370 léguas a oeste de Cabo Verde seria feita por pilotos, “astrólogos” e marinheiros das duas partes interessadas, que, dentro dos dez meses seguintes à assinatura, fossem às ilhas e partissem, em duas ou quatro caravelas, até ao ponto desejado, assinalado por graus de sol ou de norte, ou por singradura de léguas.

2. Atrasos e interesses das monarquias
Embora representantes de Portugal e Espanha fossem nomeados para a missão, a partida foi adiada, o prazo foi alterado e prorrogado, e a obrigação acabou esquecida por conveniência de ambas as coroas:
- primeiro a Espanha, interessada nas Molucas e Filipinas;
- depois Portugal, preocupado em não perder territórios brasileiros além da linha proposta.
A união das Coroas ibéricas, vigente por sessenta anos, também evitou conflitos diretos sobre fronteiras.

3. Divergência sobre o ponto de partida em Cabo Verde
A primeira discussão versou sobre de qual ilha de Cabo Verde partiria a contagem das léguas. O arquipélago tem quatorze ilhas principais, distribuídas em Barlavento e Sotavento.
Em 1495 Jaime Ferrer propôs partir da Ilha do Fogo (a mais central); outros cosmógrafos defenderam a Ilha de Santo Antão (a mais ocidental de Barlavento).
O mapa Cantino de 1502 adotou uma linha mais oriental, favorecendo Portugal nas ilhas das especiarias em vez do Brasil, projetando a linha um pouco além do delta do rio Parnaíba, no Maranhão.
As “ilhas das especiarias” referem-se às Ilhas Molucas (Maluku), arquipélago do leste da Indonésia.
Outras cartas portuguesas reproduziram essa orientação.

4. Esforços de correção e posicionamentos posteriores
Duarte Pacheco Pereira, no Esmeraldo de Situ Orbis (começado em 1505), apresentou um posicionamento que aproximava melhor a realidade, situando o território português desde Marajó até a Ilha de Santa Catarina.
Apesar disso, no segundo decênio do século XVI defendia-se que as Molucas cabiam à Espanha; navegadores como João Dias de Solís e Fernão de Magalhães foram defensores dessa ideia, ambos morrendo antes de concluir suas missões.
5. Mapas e reivindicações na costa brasileira
Já se conhecia ampla parte da costa brasileira: o mapa de Lopo Homem (1519) marca muitos acidentes geográficos da foz do Amazonas ao rio da Prata, com bandeiras portuguesas assinalando pretensões.
O geógrafo Enciso, por sua vez, traçou a linha de Tordesilhas mais a oeste, entre os rios Turi-Açu e Gurupi, no Maranhão.
6. Negociações e capitulações sobre as Molucas
A viagem de Magalhães reacendeu dúvidas sobre a posse das Molucas.
Representantes de Portugal e Espanha reuniram-se na fronteira entre Évora e Badajoz em 1524, sem solução definitiva quanto ao ponto de partida da contagem em Cabo Verde.
Posteriormente, por dificuldades financeiras da Espanha, Carlos V negociou com D. João III a Capitulação de Saragoça (1529), cedendo à Espanha eventuais direitos às Molucas mediante pagamento de 350.000 ducados de ouro.
7. Novas propostas cartográficas
Em 1529 Diogo Ribeiro fixou a linha de demarcação um pouco mais a leste, sobre a Ilha de Marajó.
Em 1531 Pêro Lopes de Sousa colocou um marco lusitano no Esteiro dos Carandins (baixo Paraná), além do rio da Prata, gesto que levou os espanhóis a reforçarem sua presença na região e a fundarem Buenos Aires em 1536.

8. Limites propostos por Pedro Nunes
Em 1537 Pedro Nunes, Cosmógrafo-Mor de Portugal, traçou um limite das 370 léguas que cortaria o Brasil próximo à foz do Oiapoque e seguiria pelo sertão até além da Baía de São Matias, estendendo ao máximo as pretensões portuguesas no continente.

9. Estagnação e retomadas da questão
Após essas tentativas não se registraram novas demarcações precisas do meridiano; sabia‑se apenas que a medição caía aproximadamente entre Belém do Pará, ao norte, e Laguna, ao sul.
A união das Coroas adiou o tema por sessenta anos. Com a paz em 1668, Espanha e Portugal não definiram limites ultramarinos naquele momento, mas a fundação da Colônia do Sacramento de 1680 reabriu as disputas.
O Tratado de Madrid de 1750 anulou Tordesilhas; o Acordo de Pardo de 1761 o revigorou temporariamente, e só o Tratado de Santo Ildefonso de 1777 pôs fim definitivo à Capitulação da partição do mar Oceano de 1494.

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