Partilha das Terras Descobertas – Demarcação do Meridiano de Tordesilhas

Tentativas de demarcação do meridiano do Tratado de Tordesilhas

Partilha das Terras Descobertas - Demarcação do Meridiano de Tordesilhas
play-rounded-fill

Partilha das Terras Descobertas - Demarcação do Meridiano de Tordesilhas

1. Contexto e disposição do Tratado

Determinava o Tratado de Tordesilhas que a demarcação das 370 léguas a oeste de Cabo Verde seria feita por pilotos, “astrólogos” e marinheiros das duas partes interessadas, que, dentro dos dez meses seguintes à assinatura, fossem às ilhas e partissem, em duas ou quatro caravelas, até ao ponto desejado, assinalado por graus de sol ou de norte, ou por singradura de léguas.

Map of Africa, 1554 - Sebastian Munster (1489 - 1552) was one of the three most renowned cartographers of the sixteenth century, along with Mercator and Ortelius. Munster's Geographia and Cosmographia Universalis were two of the most widely read and influential books of the period. His editions of Ptolemy's Geographia, published between 1540 and 1552, were illustrated with 48 woodcut maps, the standard 27 Ptolemaic maps supplemented by 21 new maps. These new maps included a separate map of each of the known continents and marked the development of regional cartography in Central Europe. The antique geography was a prelude to Munster's major work, the Cosmographia, which was published in nearly 30 editions in six languages between 1544 and 1578 and then was revised and reissued by Sebastian Petri from 1588 to 1628. The Cosmographia was a geographical as well as historical and ethnographic description of the world. It contained the maps from the Geographia plus additional regional maps and city views with nearly 500 illustrations which made it one of the most popular pictorial encyclopedias of the sixteen century. This woodcut map is one of the earliest maps of the African continent that is obtainable by the collector today. It was issued in an early German edition of Cosmographia that also appears in the 1540 Ptolemy edition with Latin text. The Ptolemaic geography, with large rivers and convoluted mountains, is augmented from Portuguese and Arabic sources. From the Portuguese comes Caput Bonespei (Cape of Good Hope) and a small group of islands off the eastern coast named Zaphala Aurifodina that were supposedly the region from which King Solomon imported gold and silver. The Arab kingdoms of Quiola and Melinde appear in eastern Africa and Hamarich, the capital of the mythical Christian king Pester John, is shown at the confluence of the twin sources of the Nile. Crowns and scepters identify the locations of African kingdoms throughout the continent. Noticeably lacking is the island of Madagascar off the southeast coast of Africa. Forests, parrots, an elephant, a Cyclops (Monoculi) and a large galleon under full sail embellish the map. The strapwork cartouche contains a Latin description of the European discovery of the continent, while the Latin title is located above the map. "Totius Africae Tabula, & Descriptio Universalis, Etiam Ultra Ptolemaei Limites Extensa", Munster, Sebastian Publication: Cosmographiae Universalis
Mapa da África, 1554 – Este mapa em xilogravura é um dos primeiros mapas do continente africano.

2. Atrasos e interesses das monarquias

Embora representantes de Portugal e Espanha fossem nomeados para a missão, a partida foi adiada, o prazo foi alterado e prorrogado, e a obrigação acabou esquecida por conveniência de ambas as coroas:

  • primeiro a Espanha, interessada nas Molucas e Filipinas;
  • depois Portugal, preocupado em não perder territórios brasileiros além da linha proposta.

A união das Coroas ibéricas, vigente por sessenta anos, também evitou conflitos diretos sobre fronteiras.

Map of the Moluccas, Indonesia, 1675 (circa) - The famous Spice Islands, the cornerstone of the Dutch trading empire in the East Indies throughout the 17th Century, is the focus of this exquisite map. Similar to Blaeu's map, except that it extends further south to include the island of Bachian. The very decorative title cartouche is supported by two sea monsters, and another cartouche contains the scale of miles. It is further embellished with various sailing vessels, sea monsters, two elaborate compass roses with north oriented to the right, and a native couple displaying the costumes and weapons of the region. "Insularum Moluccarum Nova Descriptio", Jansson, Jan
Mapa das Molucas, Indonésia, 1675 (aproximadamente) – As famosas Ilhas das Especiarias, pedra angular do império comercial holandês nas Índias Orientais ao longo do século XVII.

3. Divergência sobre o ponto de partida em Cabo Verde

A primeira discussão versou sobre de qual ilha de Cabo Verde partiria a contagem das léguas. O arquipélago tem quatorze ilhas principais, distribuídas em Barlavento e Sotavento.

Em 1495 Jaime Ferrer propôs partir da Ilha do Fogo (a mais central); outros cosmógrafos defenderam a Ilha de Santo Antão (a mais ocidental de Barlavento).

O mapa Cantino de 1502 adotou uma linha mais oriental, favorecendo Portugal nas ilhas das especiarias em vez do Brasil, projetando a linha um pouco além do delta do rio Parnaíba, no Maranhão.

As “ilhas das especiarias” referem-se às Ilhas Molucas (Maluku), arquipélago do leste da Indonésia.

Outras cartas portuguesas reproduziram essa orientação.

Map of Western Africa and Cape Verde Islands, 1699 - This is an attractive map of the important Cape Verde Islands and the opposite African coast from Cap Blanc to Sierra Leone. There is a lot of detail along the African coastline, with numerous cities, capes, rivers, and more identified. A fancy decorative title cartouche adorns the bottom of the map. Sanson's small maps from his L'Afrique en Plusieurs Cartes..., first published in 1656 and engraved by A. Peyrounin, were copied several times by various map publishers. Johann David Zunners made copies of Sanson's maps for his German translation of Die Gantze Erd-Kugel in 1679. Johannes Ribbius and Simon de Vries published copies in 1682 and 1683, with new maps engraved by Antoine d'Winter. The plates were later sold to Francois Halma, who used them in 1699 and then again in 1705 with the titles re-engraved in Dutch. The titles on the d'Winter plates were re-engraved back into French, and then used by Nicholas Chemereau in 1715 and by Henri du Sauzet in 1738. "Isles du Cap Verd Coste, et Pays des Negres aux Environs du Cap Verd...", Sanson, Nicolas
Mapa da África Ocidental e das Ilhas de Cabo Verde, 1699 – Este é um mapa atraente das importantes Ilhas de Cabo Verde e da costa africana oposta, de Cap Blanc à Serra Leoa.

4. Esforços de correção e posicionamentos posteriores

Duarte Pacheco Pereira, no Esmeraldo de Situ Orbis (começado em 1505), apresentou um posicionamento que aproximava melhor a realidade, situando o território português desde Marajó até a Ilha de Santa Catarina.

Apesar disso, no segundo decênio do século XVI defendia-se que as Molucas cabiam à Espanha; navegadores como João Dias de Solís e Fernão de Magalhães foram defensores dessa ideia, ambos morrendo antes de concluir suas missões.

5. Mapas e reivindicações na costa brasileira

Já se conhecia ampla parte da costa brasileira: o mapa de Lopo Homem (1519) marca muitos acidentes geográficos da foz do Amazonas ao rio da Prata, com bandeiras portuguesas assinalando pretensões.

O geógrafo Enciso, por sua vez, traçou a linha de Tordesilhas mais a oeste, entre os rios Turi-Açu e Gurupi, no Maranhão.

6. Negociações e capitulações sobre as Molucas

A viagem de Magalhães reacendeu dúvidas sobre a posse das Molucas.

Representantes de Portugal e Espanha reuniram-se na fronteira entre Évora e Badajoz em 1524, sem solução definitiva quanto ao ponto de partida da contagem em Cabo Verde.

Posteriormente, por dificuldades financeiras da Espanha, Carlos V negociou com D. João III a Capitulação de Saragoça (1529), cedendo à Espanha eventuais direitos às Molucas mediante pagamento de 350.000 ducados de ouro.

7. Novas propostas cartográficas

Em 1529 Diogo Ribeiro fixou a linha de demarcação um pouco mais a leste, sobre a Ilha de Marajó.

Em 1531 Pêro Lopes de Sousa colocou um marco lusitano no Esteiro dos Carandins (baixo Paraná), além do rio da Prata, gesto que levou os espanhóis a reforçarem sua presença na região e a fundarem Buenos Aires em 1536.

Map of South America & Caribbean,1596 - This is one of the most striking and decorative maps of South America and is an important early record of the continent. The map is oriented with north to the right and includes Florida and the West Indies. The Straits of Magellan are depicted with Terra del Fuego shown as a part of the great southern landmass. The coastlines are well defined and densely engraved with place names. The interior is filled with fictional mountains, rivers and vignettes of Patagonian giants, Brazilian cannibals and numerous strange animals, including a lion-like creature with a striped tail and human face. Other embellishments include large elaborate cartouches with descriptions of the region in both Latin and Dutch, sea monsters, galleons and a beautiful compass rose. Engraved by Arnold van Langren from Portuguese and Spanish sources that Linschoten gathered while living for six years under the patronage of the Catholic archbishop in Goa. "Delineatio Omnium Orarum Totius Australis Partis Americae, Dictae Peruvianae, a R. de la Plata, Brasiliam, Pariam, & Castellam Auream...", Linschoten/Langren. Publication: Itinerario…
Mapa da América do Sul e das Caraíbas, 1596 – Este é um dos mapas mais impressionantes e decorativos da América do Sul e é um importante registo antigo do continente.

8. Limites propostos por Pedro Nunes

Em 1537 Pedro Nunes, Cosmógrafo-Mor de Portugal, traçou um limite das 370 léguas que cortaria o Brasil próximo à foz do Oiapoque e seguiria pelo sertão até além da Baía de São Matias, estendendo ao máximo as pretensões portuguesas no continente.

Pontos da costa norte do Brasil por onde deveria passar a linha de demarcação previamente fixada no Tratado de Tordesilhas, de acordo com as interpretações de Ferrer (1495), Cantino (1502), Enciso (1518), dos peritos de Badajoz (1524), Diogo Ribeiro (1529) e Oviedo (1545). (Apud H. Harrisse — The Diplomatic History of America, Londres, 1897).
Pontos da costa norte do Brasil por onde deveria passar a linha de demarcação previamente fixada no Tratado de Tordesilhas, de acordo com as interpretações de Ferrer (1495), Cantino (1502), Enciso (1518), dos peritos de Badajoz (1524), Diogo Ribeiro (1529) e Oviedo (1545). (Apud H. Harrisse — The Diplomatic History of America, Londres, 1897).

9. Estagnação e retomadas da questão

Após essas tentativas não se registraram novas demarcações precisas do meridiano; sabia‑se apenas que a medição caía aproximadamente entre Belém do Pará, ao norte, e Laguna, ao sul.

A união das Coroas adiou o tema por sessenta anos. Com a paz em 1668, Espanha e Portugal não definiram limites ultramarinos naquele momento, mas a fundação da Colônia do Sacramento de 1680 reabriu as disputas.

O Tratado de Madrid de 1750 anulou Tordesilhas; o Acordo de Pardo de 1761 o revigorou temporariamente, e só o Tratado de Santo Ildefonso de 1777 pôs fim definitivo à Capitulação da partição do mar Oceano de 1494.

Cena histórica realista, estilo pintura a óleo do século XVI com iluminação dramática: um convívio tenso entre embaixadores portugueses e espanhóis reunidos numa enseada de Cabo Verde ao entardecer — duas caravelas ancoradas ao fundo, mar calmo e bandeiras de ambos os reinos; cartógrafos e pilotos agrupados em primeiro plano segurando astrolábios, quadrantes, réguas e pergaminhos com cálculos (sem mapas visíveis); um cosmógrafo apontando para a linha do horizonte com um bastão, outro consultando estrelas num pequeno astrolábio portátil; vestimentas detalhadas da corte ibérica, cores ricas (vermelho, dourado, azul-marinho), expressões tensas e concentradas; atmosfera de debate científico e diplomático.
Cena histórica realista, estilo pintura a óleo do século XVI com iluminação dramática: um convívio tenso entre embaixadores portugueses e espanhóis reunidos numa enseada de Cabo Verde ao entardecer — duas caravelas ancoradas ao fundo, mar calmo e bandeiras de ambos os reinos; cartógrafos e pilotos agrupados em primeiro plano segurando astrolábios, quadrantes, réguas e pergaminhos com cálculos; um cosmógrafo apontando para a linha do horizonte com um bastão, outro consultando estrelas num pequeno astrolábio portátil; vestimentas detalhadas da corte ibérica.

Este post também está disponível em: Português English Deutsch Español Français

Hide picture