Cine Éden é um cine-teatro suntuoso localizado em São Luís do Maranhão, cuja fachada se encontra preservada e mantém as características originais, incluindo o nome do espaço em alto-relevo.
A Urbanização de São Luís e o Surgimento dos Cinemas
Na primeira metade do século XX, quando São Luís começou a ganhar ares modernos, passando de uma economia agrário-exportadora para uma urbano-industrial, observou-se um crescimento de cines-teatros na capital.
Esses estabelecimentos estavam distribuídos pelos bairros periféricos e, na sua maioria, instalados próximos às fábricas e às vilas operárias da cidade. Embora com uma lotação reduzida, esses cinemas conseguiam atender à demanda de espectadores da região.
Esse passado áureo dos cinemas está intimamente relacionado com a instalação das fábricas na ilha e sua política de compensação aos trabalhadores.
Os proprietários dessas indústrias demonstravam preocupação com seus empregados, considerando que a saúde física e mental dos operários refletiria diretamente na produção das empresas. “Com operários satisfeitos, maior produção, mais lucro para os diretores”, elucidou o professor Paulo da Trindade Nerys, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), responsável pelo grupo de estudos sobre Cinema e Lazer do curso.
Contribuições do Processo de Urbanização
Segundo Manuela Nobre, integrante do grupo de pesquisa, o processo de urbanização e a organização dos bairros operários foram fundamentais para a criação dos cinemas.
A expansão do centro urbano ocorreu com a formação dos bairros, a partir da instalação das fábricas em um sentido retilíneo, indo do centro até a zona rural da cidade (Anil), abrangendo o percurso do Caminho Grande.
Em 1983, encontrava-se em São Luís a Fábrica Santa Efigênia e, nas últimas décadas do século XIX, o município já possuía cinco unidades fabris voltadas para a fiação e tecelagem de algodão.
A instalação dos cinemas nas vilas operárias trouxe, de certa forma, comodidade para os empregados, que não precisavam se afastar das fábricas para desfrutar de momentos de lazer.
Com a urbanização e a reorganização da cidade, tornou-se imprescindível criar ambientes apropriados próximos às residências para esses passatempos.
Os donos de fábricas não mediam esforços para construir esses espaços, realizando investimentos significativos. Isso implicava em um maior controle sobre os operários, que se tornavam a continuidade das máquinas.
Além disso, a melhoria do transporte público e privado, como a ampliação das linhas de bonde, proporcionou maior acesso a diferentes locais de lazer espalhados pela cidade, explicou Paulo da Trindade.
Vilas Operárias e o Início dos Cinemas
Fábricas como a Companhia Industrial Carioca, localizada no bairro Areal (atual Monte Castelo), e a Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil, na vila do Anil, onde atualmente funciona o Centro Integrado Rio Anil (Cintra), foram responsáveis pelo surgimento dos cinemas.
Nesse último, que era considerado uma área rural e pouco povoada, foram inauguradas pelo menos quatro salas de exibição. Em 1913, foi criado o cinema popular Petit, seguido por outros espaços como o Rialto (1927), o Cine Anil e o Rivoli, ambos sem data precisa de inauguração.
No bairro João Paulo e adjacências, que abrigava curtumes e fábricas de fiação e fósforo, foi inaugurado o Cine Rex, que se especializou em filmes de ação no estilo Bang Bang.
No bairro Areal, verificava-se a existência de pelo menos uma fábrica, a Companhia Industrial Carioca. “Neste caso específico, não se pode afirmar que a instalação do cinema se deu apenas em função da fábrica, mas também foi motivada pela expansão da classe média que habitou esta área”, ressaltou Manuela Nobre.
Ainda existe o complexo industrial do Centro/São Pantaleão/Fabril/Camboa, cuja mão de obra era proveniente de Lira, Belira, Codozinho e Madre Deus. Para atender essa população, existia o Cine Rialto (rua do Passeio, próximo ao Hospital Djalma Marques – “Socorrão”).
Outros cinemas da cidade, como o Cine Éden (na Rua Grande, atual Loja Marisa), eram destinados à classe abastada, embora sua bilheteira tivesse o mesmo valor dos outros cinemas.
Apesar de seu caráter elitista, o Cine Éden mantinha características originais em sua fachada, que se encontra bastante preservada.
Decadência do Cinema
A decadência desse projeto ocorreu com a modernização dos meios de comunicação. Segundo o professor, assim como as mulheres deixaram de lado seus folhetins para ir aos cinemas nos fins de semana, o público das produções cinematográficas começou a preferir reuniões com amigos para ouvir os programas de rádio.
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