Explorando o Recife Sagrado: Um Roteiro de Turismo Religioso em Pernambuco
Recife Sagrado é um roteiro turístico religioso onde os visitantes conhecem as igrejas e basílicas, além de explorar a arquitetura, a história, a cultura e a religião.
Recife possui um patrimônio de arte sacra que poucas cidades do Brasil apresentam. A história, a cultura e a religião sempre andaram de mãos dadas na construção de Recife. Para proporcionar um melhor conhecimento desse universo tão rico, a Prefeitura do Recife criou o projeto Recife Sagrado.
Altar-mor da Capela Dourada
Desde novembro de 2014, o Recife Sagrado oferece visitas guiadas em importantes templos da cidade. Durante essas visitas, os turistas têm a oportunidade de conhecer a história de cada construção, suas particularidades arquitetônicas e o significado que elas representam para Recife.
Atualmente, sete templos fazem parte do circuito Recife Sagrado: Madre de Deus, Capela Dourada, Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Recife, Basílica de Nossa Senhora do Carmo, Santa Tereza D’Ávila da Ordem Terceira do Carmo, Igreja Nossa Senhora de Boa Viagem, Basílica de Nossa Senhora da Penha e Sinagoga Kahal-Zur Israel.
Todos estão localizados na região central da cidade e no Recife Antigo.
Vídeo “Roteiro Recife Sagrado”
Principais Igrejas no Roteiro Recife Sagrado
- Capela Dourada
- Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
- Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife PE
- Igreja de Santa Teresa D’Ávila da Terceira Ordem do Carmo
- Sinagoga Kahal Zur Israel em Recife PE
- Basílica Nossa Senhora da Penha em Recife PE
- Igreja Nossa Senhora de Boa Viagem em Recife PE
1. Capela Dourada
A Capela Dourada, também chamada de Capela da Ordem Terceira de São Francisco do Recife ou Capela dos Noviços, faz parte do Recife Sagrado.
Sua primeira pedra foi lançada no dia 13 de maio de 1696, pelo Capitão General Caetano de Melo Castro.
A construção ficou a cargo do mestre pedreiro português Capitão Antonio Fernandes de Matos.
O fervor nas obras foi tão grande que, apenas com as jóias (dadas como esmolas) das Mesas Diretoras e as esmolas dos irmãos terceiros, a capela conseguiu ser aberta ao público no dia 15 de setembro de 1697, após um investimento de 1.365$010 (um mil trezentos e sessenta e cinco contos e dez réis).
“No dia 15 de setembro do ano de 1697, dezesseis meses após o início da construção, a capela foi aberta com toda solenidade pelo Padre Comissário Visitador Frei Jerônimo da Ressurreição, que celebrou no altar-mor o Santo Sacrifício da missa.”
A capela permaneceu em construção até 1724, quando todos os trabalhos foram considerados concluídos. É totalmente entalhada em madeira de cedro, em estilo barroco, e recoberta em gesso e lâmina de ouro.
A Capela Dourada, da Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Recife, é monumental pelo seu ouro. Essa riqueza é uma afirmação do barroco que emergiu no agitado fim artístico do século XVII, sob a influência de Luiz XV na França e de D. João V em Portugal, durante o apogeu financeiro de Pernambuco.
A decoração da capela reflete o ambiente opulento da época, repleto de móveis torneados, jacarandás trabalhados e cedros burilados.
A Capela Dourada é um exemplo marcante desse estilo, com suas pinturas ricas e vibrantes, que são algumas das mais expressivas manifestações de arte religiosa em Pernambuco.
As telas e os painéis, apesar de enfrentarem os desafios do tempo e do descaso, ainda atestam a gloriosa revelação de artistas do passado, cujos nomes, infelizmente, permanecem desconhecidos.
“Dois longos painéis nas paredes laterais mostram os mártires franciscanos.” Os frades missionários percorreram caminhos na Europa e em outros continentes.
Um dia, cinco frades passaram por Coimbra, rumo a Marrocos, na África, onde foram pregar aos muçulmanos. Chegando a Marrocos, pregaram aos pagãos, mas foram aprisionados pelo rei e condenados à morte por decapitação no dia 16 de janeiro de 1220.
Os restos mortais dos mártires foram transportados à Europa e, ao passarem por Coimbra, foram colocados na Igreja do Mosteiro de Santa Cruz (extraído do livro “Francisco mostrou o caminho”, pg. 38 de Frei Hugo Baggio, OFM).
Esses dois retábulos foram trabalhos executados entre os anos de 1707 a 1710.
Os douramentos dos painéis foram finalizados entre 1699 a 1700 e de 1715 a 1717.
Os painéis de azulejos que adornam a Capela Dourada, todos do tipo existente em várias igrejas franciscanas do Brasil, foram adquiridos no ano de 1704. Eles apresentam figuras simples de motivos profanos.
As obras de talha que encontramos na Capela Dourada representam a arte e a civilização das gerações passadas, embora o estudo dessa especialidade seja difícil e escasso em técnicos.
Entre a Capela Dourada e a Igreja do Convento de Santo Antônio do Recife, encontramos uma enorme grade de ferro. A primitiva grade, trabalhada em 1968 pelo irmão franciscano Luiz Machado, foi substituída.
Todas as imagens existentes na Capela Dourada vieram de Portugal, exceto a imagem de Nossa Senhora, Padroeira dos Noviços, que foi esculpida em madeira de cedro entre 1866 e 1867 pelo mestre santeiro pernambucano Manuel da Silva Amorim.
Ele também é conhecido por ter feito a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, que participa da procissão todos os anos durante a quaresma.
A Capela Dourada, tombada desde 30 de novembro de 1937 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Geográfico Artístico Nacional (IPHAN), é considerada um Monumento Nacional.
Há muitos anos, deixou de celebrar casamentos e outros atos litúrgicos, sendo atualmente considerada um museu.
Turistas de diversos países e de todos os estados brasileiros visitam diariamente a Capela Dourada.
Além disso, alunos de várias escolas e universidades assistem a aulas ministradas por professores de Arquitetura e Arte Barroca. A média anual de visitação é de vinte mil pessoas.
2. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
No roteiro Recife Sagrado, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, situada na Rua Larga do Rosário, no bairro de Santo Antônio, foi edificada em 1630 pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, uma associação formada por escravos negros.
É importante ressaltar que os africanos transportados como escravos para o Brasil pertenciam a tribos (ou nações) distintas, como as de Angola, Benguela, Cambinda, Moçambique, Congo, Cassanges, entre outras.
Cada uma dessas tribos possuía suas próprias línguas (ou dialetos), costumes (como o conselho de anciãos e festas) e rituais sagrados e religiosos específicos (ritos de Xangô, festas dos mortos e festas dos reis magos).
No Congo, em particular, os negros possuíam certos privilégios, podendo eleger um rei (no idioma pátrio, o Muchino riá Congo) e reinar sobre pessoas de outras nações africanas, sejam crioulas ou africanas, livres ou escravas.
Nesse contexto, o primeiro compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que autorizou a coroação de um rei do Congo em suas festas, está registrado no dia 8 de maio de 1711.
Para sobreviver à dor da escravidão e do exílio (tanto da terra natal quanto dos familiares e amigos), os escravos uniram-se em seu novo habitat, harmonizando seus ritos ancestrais da melhor forma possível.
Dessa maneira, as agremiações religiosas representavam um elo importante, através do qual os negros podiam expressar suas necessidades de defesa e proteção, seus desejos de liberdade, de caridade para com o próximo e de solidariedade humana.
As festas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos eram compostas por danças e batuques que não faziam parte da liturgia católica. Por isso, os rituais manifestados por esses irmãos chegaram a ser proibidos pela Inquisição.
Os quilombos, em particular, tanto o de Palmares quanto os demais, entre o Cabo de Santo Agostinho e o rio de São Francisco, eram expressões do espírito associativo dos africanos. Essa tendência associativa, advinda dos quilombos (situados em plena área rural), estendeu-se também às zonas urbanas.
A Irmandade conservava o sistema de coroação presente na África, com rituais e procissões em maracatu, mantendo os arqueiros à frente, dois cordões de damas de honra, símbolos religiosos, bonecas enfeitadas, jacarés, gatos, dignitários e, finalmente, o rei e a rainha do Congo, seguidos por músicos.
No primeiro domingo de outubro de 1645, segundo os registros, Henrique Dias festejou com seus irmãos negros, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, todas as pompas de sua padroeira.
Também estão registrados nos livros da Irmandade, até o ano de 1888, todos os coroamentos que foram feitos dos reis e rainhas da Angola, do Congo e de Cambinda. Foi mediante essas coroações que se originou o maracatu, uma das manifestações mais belas e expressivas do folclore nordestino.
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no período do Brasil Colonial, apesar da condição precária de seus integrantes, não media esforços para construir templos tão ricos quanto aqueles erigidos pela nobreza, seja através do fornecimento de mão de obra gratuita, seja pela aquisição de materiais.
Quanto a isso, existem as escrituras feitas pelos vários tesoureiros ao longo dos séculos. Muitas vezes, os irmãos pagavam os débitos através da confecção de doces.
Em um dos registros, por exemplo, lê-se as seguintes rubricas como forma de pagamento: “aos tocadores das danças, sete patacas; cordas de viola, 640; e mais dois pares de sapatos aos dançantes, com uma esmola que se pagou ao capelão.”
Em 1739, a fachada do templo estava em ruínas. A Irmandade decidiu, então, construir um novo frontispício.
Pela Igreja dos Homens Pretos passaram famosos entalhadores, como Manuel Pais de Lima (responsável pelo frontispício) e Manuel Alvarez, além de uma série de oficiais marceneiros e carpinteiros que trabalharam arduamente durante muito tempo para recuperar o edifício.
O templo teve sua reconstrução iniciada em 1750, e as obras foram concluídas em 1777. Inspirada nos conventos franciscanos, a igreja se tornou um ícone da arte barroca. Em termos de estilo, a construção é típica daquelas existentes na segunda metade do século XVIII.
A construção possui um estilo colonial, mas um conjunto de seus altares conserva o estilo rococó.
O mesmo se aplica à sua fachada: simples e autêntica do século XVIII, apresenta uma torre, um frontispício alto com volutas e um rosário que ocupa o lugar dos brasões tradicionais das igrejas pernambucanas.
A igreja tem cinco grandes portas em sua fachada. No nicho de uma delas, observa-se uma imagem secular de Nossa Senhora do Rosário, proveniente do tempo em que a igreja foi fundada, assim como uma antiga imagem de São Benedito, presente no consistório, datando de 1753.
As talhas no altar-mor, o painel pintado em seu forro primitivo (a imagem da Virgem Maria, ladeada por querubins mulatos, entregando o rosário a São Domingos, inspirador da Ordem), e os móveis presentes na sacristia estão bem conservados.
Há também uma galeria de arte no corredor lateral.
A imagem da padroeira, um dos mais belos exemplos da arte luso-brasileira, merece destaque: possui tamanho natural, é feita em madeira policromada, apresenta olhos de vidro e alfaias de prata. Em seu interior, as pilastras, arquitraves e arcos são jaspeados.
Excetuando-se Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Boa Hora e São Domingos, todas as outras imagens presentes nos altares representam santos negros: São Benedito, São Baltazar, Santa Efigênia, São Moisés, Santo Antônio de Catalagirona e Santo Elesbão.
O sistema religioso da Irmandade se modificou após o advento da República, passando a receber pessoas de qualquer cor, com direito a voto e a julgamento, bem como o direito de modificar as festas religiosas e o sistema administrativo.
Desse modo, a Irmandade dos Homens Pretos passou a se enquadrar nas conjunturas e cânones vigentes nas irmandades católicas e ordens religiosas.
No começo do século XX, ocorreu um incidente desagradável entre as irmandades de São Benedito e a Ordem Terceira de São Francisco: ao se instalarem no convento de Santo Antônio do Recife, os irmãos pretos começaram a notar o desprezo dos irmãos da Ordem Terceira, assim como uma série de exigências descabidas por parte desses últimos – homens brancos, ricos e de destaque.
No dia 29 de setembro de 1907, após uma assembleia geral, em decorrência desse desprezo, os irmãos pretos de São Benedito decidiram sair em procissão, carregando o andor com a imagem do seu padroeiro – o venerado santo preto – abandonaram a Igreja da Ordem Terceira e pediram guarida no templo dos irmãos de Nossa Senhora do Rosário.
3. Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife PE
Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, houve uma relutância das autoridades quanto à construção de um convento carmelita em Recife. Preferiam que os esforços se concentrassem em reformar o convento de Olinda, arruinado após a invasão batava.
Com o passar do tempo, houve consenso, e o terreno onde existiam as ruínas de um antigo palácio de Maurício de Nassau foi doado para o Carmelo, que construiu no local uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Desterro.
Na mesma época, houve uma reforma institucional na ordem carmelita, conhecida como reforma de Touraine ou Turônica (de Tours, França). Os carmelitas de Recife aceitaram a renovação, enquanto os de Olinda recusaram a reforma.
Assim, após algum tempo, o Carmelo recifense floresceu, enquanto o convento de Olinda se estagnou, passando inclusive por alguns anos de decadência. No final do século XVII, com o apoio do capitão Diogo Cavalcanti de Vasconcelos, veterano da guerra contra os holandeses e cunhado de André Vidal de Negreiros, os carmelitas de Recife iniciaram a construção de uma nova igreja, dedicada a Nossa Senhora do Carmo.
As obras da igreja e do convento da Basílica de Nossa Senhora do Carmo duraram mais de cem anos, iniciando-se por volta de 1680 e se estendendo até o final do século XVIII, quando foram finalizadas a torre e a fachada.
A igreja possui nove altares: o altar-mor (dedicado a Nossa Senhora do Carmo), seis altares laterais e dois grandes altares no transepto (um dedicado ao Santíssimo Sacramento e outro dedicado ao Bom Jesus e a São José).
O frontispício da igreja é um dos mais imponentes de Pernambuco, com muitas volutas esculpidas em pedra. A torre, de 50 metros de altura, é encimada por um dos mais elaborados bulbos do barroco brasileiro.
Em 1917, o papa Bento XV elevou a igreja à dignidade de “Patriarcal Basílica Vaticana”, conferindo a ela diversas indulgências e características jurisdicionais específicas. Em 1919, Nossa Senhora do Carmo foi proclamada padroeira de Recife.
Ao longo do século XX, sob o pretexto de promover o progresso, políticos locais empreenderam desastrosas modificações no centro antigo de Recife, contribuindo para a degradação da região e a descaracterização desse importante reduto da história brasileira. No entanto, a Basílica do Carmo, assim como outras igrejas locais, ainda resiste com sua beleza original, lembrando uma época em que Pernambuco foi uma das regiões mais prósperas do Brasil.
Segundo o historiador Flávio Guerra, a imagem de Maria seria a mesma que foi trazida de Portugal para Olinda e que foi salva da destruição promovida pelos holandeses (calvinistas) quando invadiram a cidade.
4. Igreja de Santa Teresa D’Ávila da Terceira Ordem do Carmo
No roteiro Recife Sagrado, a Igreja de Santa Teresa D’Ávila está localizada no Pátio do Carmo e faz parte do Recife Sagrado, bem ao lado da Basílica homônima.
Ofuscada pela sua vizinha famosa e escondida no final de um corredor de belas palmeiras, ela infelizmente passa despercebida pela maioria dos transeuntes que circulam apressadamente pelo centro do Recife.
A obra de construção da igreja foi concluída em 1710 (consagrada apenas em 1835) após dez anos de iniciada. Se compararmos com os oitenta anos da Basílica do Carmo, podemos afirmar que a igreja demorou bem pouco tempo para ficar pronta. Isso ocorreu graças à disposição dos membros da Ordem Terceira do Carmo para gastar todos os recursos necessários para erguê-la no menor tempo possível e com o máximo de luxo.
Vale ressaltar que esses membros eram comerciantes, senhores de engenho, entre outros. A Ordem Terceira do Carmo é composta até os dias de hoje por leigos, ou seja, pessoas que não fazem parte do sacerdócio (não há freiras nem frades). Sua padroeira, Santa Teresa D’Ávila (ou Santa Teresa de Jesus), nasceu na província de Ávila, Reino de Castela (Espanha), e viveu entre os anos de 1515 e 1582.
Ela teve uma vida de dedicação exemplar à oração, exerceu um papel fundamental na reforma da Ordem do Carmo e foi uma das escritoras mais notáveis sobre temas ligados à igreja. Dotada de um exímio talento, ela descreveu suas próprias experiências pessoais para explicar os quatro degraus da oração: o recolhimento, a quietação, a união e o arrebatamento.
Apesar de tamanha dedicação, Santa Teresa D’Ávila foi perseguida pela Inquisição da Igreja Católica pela forma de expressar suas ideias e por falar do “orgasmo espiritual” em seus escritos. Há indícios de que ela não foi morta devido à forte influência de seu pai perante o rei.
Visitar a Igreja de Santa Tereza D’Ávila da Ordem Terceira do Carmo proporciona a oportunidade de conhecer o maior acervo de pinturas em homenagem à santa no mundo. Assim como as demais igrejas dessa época, seu estilo arquitetônico é o barroco em sua fase final, repleto do rebuscamento característico do rococó.
As pinturas da nave da igreja são de autoria de João de Deus Sepúlveda (século XVIII), enquanto as da entrada são do escravo alforriado pernambucano Manoel de Jesus Pinto. Naquela época, não era permitido que negros frequentassem a igreja.
A nave da igreja abriga também um raro lustre de cristal, mas seu maior destaque são os quadros dispostos no teto. Entre eles, há algumas raridades, como uma pintura da Santa em trajes íntimos (para a época, é claro) e outras duas do “coisa ruim”. Você topa procurar?
Os altares laterais representam seis passos da Paixão de Cristo. Há um detalhe importante na técnica de douração: diferentemente da Capela Dourada, onde foi utilizada a aplicação de folhas de ouro, aqui eles “sopraram” pó de ouro sobre a tinta fresca.
O Altar-mor exibe ao centro as imagens de Jesus Cristo e Nossa Senhora do Carmo, com São José “de botas” (uma raridade) à direita e a padroeira Santa Teresa à esquerda.
Você percebeu algo diferente na imagem de Jesus? Ele está com a cabeça voltada para a direita e as feições bastante sofridas em seu último momento de vida. Apenas duas imagens estão retratadas dessa forma no mundo (a outra está em Ouro Preto).
Os nichos laterais apresentam as imagens de São Elias, pai espiritual de todos os carmelitas, e seu seguidor São Eliseu. É difícil distinguir as duas imagens devido à semelhança (a de São Elias é a da esquerda, ao lado de Jesus). As imagens menores na parte mais baixa são de João Paulo II e Santa Terezinha.
O lado esquerdo do altar apresenta uma pintura com uma das passagens mais importantes da vida de Santa Teresa: a transverberação do coração.
A sacristia está fechada para visitações, mas vale a pena insistir para conhecê-la. Além dos móveis coloniais do século XVIII, há belas imagens de Santa Teresa de Jesus, Nossa Senhora da Soledade e São José (da esquerda para a direita), e reproduções das passagens mais importantes da vida de Santa Teresa D’Ávila.
Para finalizar, a área ao lado da igreja é ocupada por túmulos de membros importantes da Ordem Terceira do Carmo, como o do Barão de Casa Forte e outros.
5. Sinagoga Kahal Zur Israel em Recife PE
A comunidade israelita participa da vida pernambucana desde a época da Colônia, preservando sua tradição cultural e religiosa.
Mais que uma religião, o Judaísmo está vinculado à história de um povo que se constituiu em nação há três mil anos. Atualmente, a Federação Israelense de Pernambuco (FIPE) estima que há cerca de 1,5 mil judeus vivendo no estado – a grande maioria mora na capital, exercendo um pequeno impacto no cotidiano da cidade.
Esse cenário é bem diferente do encontrado no século XVII, quando a população judaica no Recife era similar à de hoje, porém em uma província com pouco mais de 10 mil habitantes. Para se considerar judeu, é preciso ser filho de mãe judia ou ter se convertido ao judaísmo.
O primeiro fluxo migratório de judeus que chegou ao Recife ocorreu no século XVII e trouxe pessoas oriundas da Península Ibérica, que fugiam da inquisição religiosa. Em Portugal, muitos judeus se converteram em massa ao cristianismo devido a essa pressão, sendo conhecidos como cristãos novos.
Os cristãos convertidos e aqueles que fugiam da conversão chegavam ao Recife e praticavam ritos e costumes judaicos dentro de casa para evitar a acusação de heresia.
A conversão e as práticas às escondidas não eram uma escolha; os criptojudeus – como ficaram conhecidos aqueles que praticavam suas crenças de forma velada – tinham como destino certo a morte na fogueira em praça pública, caso fossem encontrados pela inquisição.
O processo de conversão pode demorar até dois anos de estudos sobre a história e cultura judaicas, além de um pouco da língua hebraica. Ao final desse período, a pessoa participa de um Beit Din (espécie de tribunal rabínico), composto por três membros que avaliarão se o indivíduo está apto a se incorporar ao Judaísmo.
O pesquisador da história judaica Odmar Braga aponta que, antes mesmo da primeira grande migração, ocorrida no século XVII, já havia chegadas de “cristãos novos hispano-portugueses” em solo pernambucano. “Duas sinagogas existiram entre 1580 e 1595. Uma no Alto da Ribeira e outra no engenho Camaragibe, de propriedade da mesma família”, explica.
No século XVII, as invasões holandesas mudaram, ainda que momentaneamente, esse cenário. “A Holanda era um país calvinista, defensor de matizes religiosas diversas. Isso possibilitou a prática do Judaísmo com liberdade no Recife entre 1630 e 1654. Sai de cena o português inquisidor e entra o holandês tolerante”, ensina Tachlitsky.
Tradições
Aos 8 dias de vida, os meninos judeus passam pela circuncisão, que consiste na retirada do prepúcio do pênis. Aos 13, eles participam do Bar Mitzvah, que marca a “maioridade religiosa”. O Bat Mitzvah das meninas ocorre aos 12 anos.
Após a chegada dos holandeses e a consequente liberdade religiosa, Braga relata que os remanescentes das sinagogas do Alto da Ribeira e de Camaragibe, juntamente com seus filhos, circuncidaram a si próprios e fundaram a Sinagoga Manguén Abraham. “Posteriormente, eles também foram responsáveis pela fundação da Sinagoga Kahal Zur Israel”, conta.
A pesquisadora e fundadora do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, Tânia Kaufman, afirma que, com o domínio da Holanda, esse contingente judeu de origem ibérica, chamado de sefaraditas, ao contrário dos cristãos novos que chegaram na cidade no início da colonização, não precisavam ocultar suas crenças.
Eles encontraram no Recife uma atmosfera judaica e começaram a desfrutar da proteção do governo de João Maurício de Nassau, além dos privilégios da elite social e econômica existente na época.
Diante desse cenário favorável, a imigração de judeus atingiu seu ápice. Odmar Braga relata como auge a chegada do rabino Isaac Aboab da Fonseca, que tinha o nome católico de Simão da Fonseca e estudou para se tornar rabino após sua família fugir para Amsterdã. Tânia Kaufman considera esse acontecimento um sinal de que os judeus começaram a fincar raízes na cidade, ao ponto de viabilizar o primeiro rabino das Américas.
“É nessa época também que é construída a primeira sinagoga das Américas (Kahal Zur Israel), ocupando um dos casarões da Rua do Bom Jesus, então chamada de Rua dos Judeus”, destaca Kaufman. A construção da sinagoga foi iniciada em 1638 e concluída em 1641.
O período holandês, apesar de produtivo para os judeus, foi curto. Pouco mais de 20 anos depois, os portugueses retomaram o domínio da colônia, gerando uma migração em massa para o interior do estado – sobretudo para o Sertão, onde era mais fácil manter os hábitos judaicos.
Lá, muitos estavam fora do alcance da inquisição portuguesa que, periodicamente, fazia incursões para perseguir hereges, levando-os a Portugal para serem julgados pela Santa Inquisição.
“Diante do elevado número de judeus que viviam em Pernambuco e do espaço físico reduzido das embarcações da época, muitos não conseguiram sair do país e decidiram permanecer no Sertão e em outras localidades além da fronteira de Pernambuco.”
A segunda migração judia e o bairro da Boa Vista
Pernambuco entrou novamente na rota dos judeus no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, desta vez como destino para aqueles que fugiam de perseguições na Europa, especialmente no Leste do continente.
O próprio Jáder Tachlitsky tem na família histórias dessa migração. Seus avós vieram da Ucrânia fugindo da perseguição promovida pelos czares russos na região. “Hitler não criou a perseguição aos judeus, mas levou-a a um patamar mais extremo, matando milhões de pessoas. Antes, os judeus já eram perseguidos na Europa”, aponta Tachlitsky.
Esses judeus, conhecidos como ashkenazitas, chegaram à cidade com um status diferente dos que vinham na primeira migração, que se consolidaram como elite recifense. Tanto o bisavô como os avós do economista trabalharam no comércio informal na capital pernambucana.
“Chegaram em situação difícil. Eles percorriam bairros mais isolados na época, como Beberibe e Casa Amarela, e faziam venda de mercadorias a crédito, parceladas em 10 a 15 vezes. Assim, prosperaram”, relata.
Ele afirma que, devido ao histórico de perseguições, os judeus mantinham o hábito de viver próximos uns dos outros, algo que se manteve no bairro da Boa Vista até a década<
de 70. “O bairro era sede da sinagoga, do Clube Israelita e do Colégio Israelita. Havia esse costume de ter tudo sempre por perto. A Praça Maciel Pinheiro, por exemplo, era um ponto de encontro da comunidade judaica”, frisa.
No roteiro Recife Sagrado, a 1ª Sinagoga, localizada na Rua Martins Júnior, no bairro da Boa Vista, a Shil Sholem Ocnitzer ou Sinagoga Israelita do Recife, foi inaugurada em 20 de julho de 1926. Atualmente, o local não recebe mais encontros religiosos.
Boa Vista: o bairro do Centro do Recife
O bairro da Boa Vista concentrava as moradias de judeus até a década de 70. De acordo com Tachlitsky, a Praça Maciel Pinheiro era uma espécie de ponto de encontro. A casa da escritora Clarice Lispector, que era judia, está localizada nas proximidades da praça.
O resultado é que a segunda comunidade se inseriu no Brasil pelas camadas menos privilegiadas da sociedade, como explica Tânia Kaufman. “Os primeiros contatos foram com pessoas de menor poder aquisitivo, através de relações comerciais. Rapidamente, os judeus tiveram êxito e se tornaram comerciantes de pontos fixos no bairro da Boa Vista”, avalia.
Em seguida, foram se estabelecendo em casas comerciais concentradas na Rua da Imperatriz Tereza Cristina e adjacências, um espaço que era utilizado tanto para o comércio quanto para o uso residencial.
6. Basílica Nossa Senhora da Penha em Recife PE
No roteiro Recife Sagrado, a Igreja de Nossa Senhora da Penha, localizada no coração do comércio recifense, remonta aos tempos das Capitanias Hereditárias. O conde holandês Maurício de Nassau, então governador, acolheu os primeiros missionários capuchinhos franceses em Pernambuco, em 1642.
Posteriormente, os capuchinhos receberam a doação de um vasto sítio e construíram um hospício e uma igreja. Em 1870, capuchinhos de Vêneto (Itália) demoliram a antiga Igreja da Penha e ergueram a imponente e atual Basílica da Penha, concluindo a obra em 1882, liderados pelo habilidoso arquiteto capuchinho Frei Francesco Maria Di Vicenza.
O frade arquiteto inspirou-se na basílica veneziana de San Giorgio Maggiore, de estilo Neoclássico. A Basílica da Penha é um marco divisor na história da arquitetura pernambucana e um exemplar, no Brasil, dos primórdios do neoclassicismo em Pernambuco.
Em 1964, Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, criou a Paróquia Nossa Senhora da Penha e elegeu a Basílica da Penha como Igreja Matriz. Tradicionalmente, às sextas-feiras, a Basílica da Penha reúne um grande fluxo de devotos, quando é ministrada a bênção de São Félix ao longo do dia, pelos capuchinhos.
7. Igreja Nossa Senhora de Boa Viagem em Recife PE
No roteiro Recife Sagrado, a Igreja Nossa Senhora de Boa Viagem, situada na Pracinha de Boa Viagem em Recife, foi erguida sobre a areia da praia, tendo seus primeiros registros datados do século XVII. Por volta de 1862, o templo passou por uma grande reforma, que lhe conferiu o aspecto atual. Sofreu mudanças internas e externas, sendo preservado apenas o altar da sacristia.
“A partir da abertura das linhas de bondes e da Avenida Boa Viagem, o bairro cresceu e se modernizou, e a igreja foi uma das únicas construções históricas da Zona Sul que resistiram às novas edificações.”
A Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem, até a metade do século XVII, estava localizada no antigo território da Barreta, que correspondia a toda a área costeira que se estendia desde o frontal do Pina até a povoação das Candeias.
Não se tem conhecimento de uma fonte precisa que assegure a data da abertura da igreja. Sabe-se, porém, que em 1743, o templo já estava pronto. Antes de 1848, a capela pertencia à paróquia de Nossa Senhora da Paz, em Afogados, e somente em 8 de setembro daquele ano conseguiu ser elevada ao status de paróquia independente.
O documento mais antigo sobre a igreja é uma escritura datada de 6 de junho de 1707. Nela, Balthazar da Costa Passos e sua esposa, Ana de Araújo Costa, doam ao padre Leandro Camelo um local onde havia um “oratório ou presépio a Jesus e Maria, juntamente com o solo que estava perto, que era um sítio de terras na Barreta, com cem braços de frente e uma légua de fundo, desde a praia até o Rio Jordão.”
Ainda por testamento, aqueles doadores, por serem muito religiosos, anexaram ao patrimônio da capela mais um sítio, ao lado, “com 500 braços de terra, com trinta e tantos pés de coqueiros, onde está uma casa de taipa à venda, em que antigamente morava Manuel Setúbal.”
Uma outra informação extraída de documentos históricos ressalta que o padre Leandro Camelo, na época conhecido como “homem de grandes virtudes”, empregou tudo o que possuía para mandar fazer uma imagem com o título da Boa Viagem, em obsequios a Maria Santíssima, colocando-a em uma magnífica Igreja que ergueu, distando duas léguas do Recife, sobre as praias do mar, “pondo as suas esperanças nesta Senhora, cujo cuidado é levar-nos, sempre, ao desejado porto de salvação”.
Segundo estudiosos do assunto, a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, no período do Brasil Colonial, embora modesta, representava um dos templos de maior rendimento patrimonial do Recife. O seu usufruto era de cinco grandes sítios, quatro pequenos e vinte casas térreas no povoado, além de um pequeno sítio de coqueiros na praia, doado pelo padre Luís Marques Teixeira, com o único compromisso de retirar, de sua renda, “a quantia necessária para se conservar acesa, dia e noite, a lâmpada da capela-mor da igreja”.
As grandes reformas na Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem foram iniciadas em 1862. No lugar do prédio anterior, ergue-se um novo, com uma estrutura mais solene. Existia antes disso uma pequena igreja com linhas simplórias e um alpendre erguido em sua frente, que mais parecia um daqueles templos modestos da zona rural.
Durante a reforma, os religiosos preservaram alguns altares, entre os quais o da sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Datado de 1745, esse altar foi entalhado pelo mestre João Pereira e dourado pelo artista Francisco Teixeira Ribeiro, no ano de 1772.
Inegavelmente, foi a Capelinha de Boa Viagem que deu nome à sua lindíssima praia. Vale ressaltar que, entre os administradores, estavam os próprios doadores das terras: o irmão de Balthazar Passos, Antônio da Costa Passos, e a esposa, Catarina de Araújo Sampaio; além dos padres Luiz Marques Teixeira e Inácio Ribeiro Noia.
No começo do século XX, o acesso à Boa Viagem ainda era bastante difícil. Em 1908, por exemplo, via-se apenas cerca de 60 casas de construção regular, desalinhadas, e a capela. A povoação só apresentava alguma vida nos meses de setembro a março, período em que a estação balneária era frequentada.
Distando 11 km do centro do Recife, Boa Viagem só tomou impulso depois que a Avenida Beira-Mar foi construída. Isso possibilitou à população utilizar o bonde elétrico para ir à praia. Antes disso, em se tratando de transporte público, só havia uma linha de bondes puxados por burros, inaugurada em 1899.
Paralelamente às obras no templo, ao longo desses mais de trezentos anos, os administradores procuraram colaborar, tanto quanto lhes fosse possível, na pregação do evangelho e nas celebrações litúrgicas, criando uma aura de atração às pessoas que por ali passavam ou residiam: embarcadiços, pescadores, viajantes, entre outros.
Alertavam-lhes, sobretudo, que existiam os sérios problemas da alma, cuja vigilância não podia desandar.
Em 8 de setembro de 1948, por decreto do Sr. Arcebispo Dom Miguel de Lima Valverde, foi criada a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, elevando sua igreja à categoria de matriz. Seu primeiro pároco foi Monsenhor Romeu Vasconcelos de Sá Barreto, que aqui permaneceu de 1º de janeiro de 1949 a 06 de agosto de 1967, quando faleceu.
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